Não sei qual é o valor dessa minha voz em meio a tantas outras. Em meio à banalidade da vida, da mão cortada, do corpo violentado, do xingamento, do grito. Não sei qual é o valor. Talvez seja só mais um eco, mas enfim, deixo o meu. Essa expressão, ainda que seja vã.
Não consigo me conformar com o dado alarmante de que todos os dias uma mulher, uma garota, uma velha, uma irmã sofre algum tipo de violência sexual. Seja da bolinação que se faz de boba, seja do ato emsi, da sediciação, sodomização ou tudo que se incorpora a violência em nome de um prazer animal. Não consigo me conformar, até porque qualquer notícia dessa me dói na carne, como uma mão violentamente espalmada.
Na manhã de ontem, uma moça (que podia ser eu, ou tantas amigas e colegas que estudam no Campus da UFBa), foi brutalmente violentada porque não tinha dinheiro nem pertences valiosos para dar para o ladrão bestial. Para não sair perdendo tempo, por assaltar alguém sem posses, ele roubou dela o que tinha de mais precioso, o seu viço, a sua dignidade.
Aí abro o jornal e leio que uma menina de 9 anos era abusada por um adolescente de 15 anos e por um homem mais velho. Ao descobrir que seu filho abusava da neta de sua esposa, o velho se sentiu autorizado a fazer o mesmo. Assim, a menina passou a viver nesse cotidiano perverso, saciando o prazer escroto de dois seres animais. Sim, porque os homens transitam no mundo como animais. E como tal, nos enxergam como alimento para sua sede animal. Saciar essa sede vem primeiro. A humanidade, a dignidade, o respeito pela pessoa é mero detalhe. Não mata sede.
E isso me dói, porque é todos os dias, em toda a parte e eu sinto medo. Um pavor paralisante. E sinto uma impotência imensa. Que posso eu fazer diante disso? Que posso eu fazer para impedir que todos os anos 125 mil irmãs que vivem em Salvador sofram abusos? Que eu posso fazer para impedir que esses absurdos se repitam a cada 15 minutos (no Brasil, é o tempo de realização de atos de violência contra mulher)?
Mas é isso. Está no hábito. Está no entendimento. Está na cultura. Somos algum buraco. Somos um prazer pro corpo do outro. Somos qualquer coisa. Uma loira num anúncio de cerveja. Uma negra de bunda farta. Não sou qualquer coisa. Não somos...como fazer esses animais verem que somos gente. E que eles, por incrível que pareça, também o são.
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
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