segunda-feira, 7 de abril de 2008

Moda: de amiga a patroa

Nunca fui muito preocupada com peso. Até porque sempre estive abaixo do peso para minha altura. Hoje, beirando os 30 anos, estou também beirando o peso ideal. O que significa que eu preciso estar atenta, pois depois de ficar balzaca os hormônios vão mudando e nossa tendência de ireversivelmente engordar é grande. Ok, estou atenta e devidamente preocupada.
Mas veja só, além de minha preocupação com minha saúde e bem estar, a coisa não evolui muito. Não acho que eu seria menos gostosa se fosse um pouco mais cheinha. Sinto que no mundo das pessoas reais e normais, a magreza excessiva não é das coisas mais atraentes.
Pois então, um amigo me comentou que determinada loja de departamentos de um dos shoppings daqui de Salvador, pesa periodicamente suas funcionárias para verificar se estão dentro do enquadramento de peso. Caso contrário, o perigo da cabeça ser cortada é grande. Bem, se isso é verdade, eu realmente não sei, mas também, nesse mundo de calças centropeito nada me surpreende.
E esse papo introdutório todo é porque fiquei me perguntando para quem a moda é criada? Essa tal moda das tais fashion weeks é criada para quem, além de Alynne Morais e Giselle Bundchen? Não sei, mas me pergunto se ela é criada para as mulheres que vejo andando nas ruas, independente das classes sociais...mas não somos aquelas mulheres que desfilam nas passarelas e para quem as roupas são desenhadas. Moro numa cidade de mulheres de estatura baixa, tronco curto, pernas grossas, mulheres mestiças, muitas vezes mais rechonchudas, de quadris inevitavelmente largos. E essas calças centropeito, essas saias cintura altas...não sei, engolem essas mulheres...as tais pantalonas ficam tão estranhas em nós baixinhas...
Nesse mundo em que a obesidade é cada vezmais uma coisa comum às populações de um continente a outro, a imposição da anorexia como expressão da beleza é algo que vai na contramão. Se a função da moda é conferir beleza, bem estar, charme, estética, por que não ser pensada para os simples mortais, que não são esguios, altos e loiros. Por que não pensar uma moda que leve em consideração as consumidoras, em vez de impor um modelo que só atende a uma parcela tão pequena...
A moda mais me parece uma ditadura. Alguém que eu não conheço decide o que é bonito para ser usado, sem considerar a estrutura física desse povo, das mulheres desse país. Aí, você anda pelos shoppings e só encontra os modelos ditados pela tal figura sem nome. Claro, nem tudo é ruim na moda. Muito pelo contrário, há coisas charmosas, bonitas, que valorizam nosso corpo, nossa pele, nossos olhos, mas há também muita coisa que passa por cima das feições desse país.
Por exemplo, porque roupas para mulheres mais gordas não são jovens? Por que não pensar uma roupa que valorize o corpo dessa mulher? Por que temos que ter quadril estreito se a nossa mestiçagem está longe de propiciar isso: somos mulheres de quadril geneticamente mais largo. Por que não desenhar roupas que lidem com esse corpo? Ah e por aí vai...
Não aprecio a padronização. Usar o que está imposto também não é meu estilo. Uso o que gosto, o que fica bem em mim. O que cabe no meu estilo. O que me deixa bonita. Não tenho problemas em ser e estar diferente. Busquei isso e a vida me permitiu...pena que nem todas nós temos liberdade o suficiente para buscar e construir isso. A ditadura do padrão não costuma respeitar as individualidades e nem sempre somos tão convictas de nossas vontades para ousar.
Enfim...seja e use o que lhe convém.