Jacyan Castilho é uma mulher admirável, com uma sensibilidade movida a sangue quente. Inteligente e divertida, esta atriz não tem medo de ser o que é, pessoa agridoce e criativa. Atriz, diretor, doutora em Artes Cênicas, bailarina, mãe, mulher, boa de papo, como se pode ver nessa entrevista. Leia, diverta-se e pense.
Eu - Quando você percebeu que não teria jeito, seria atriz?
Ela - Nunca percebi. Desisti mil vezes, achei mil vezes que não tinha jeito pra coisa, tentei mil vezes fazer outra coisa. Mas, se ainda estou aqui, é porque devo ter insistido umas mil e uma vezes...
Eu - Tem umas profissões que são meio glamurizadas, o ofício do teatro é uma delas. Em sua vida, há(ou houve) algum glamour em ser atriz?
Ela - Bom, costumava dar Ibope com os meninos (rsrs) - os meninos de fora do ramo, evidentemente. Arranjei alguns namorados com esse papo de "sou atriz...".
A família sonha em te ver na Globo, e, eventualmente,quando você aparece lá mesmo, o cara do bar da esquina fica orgulhoso por você e te exibe pros fregueses. Nesses dias, o café vinha mais quentinho.
Ou seja, fica todo mundo louco pra te exibir, e quando conseguem, você é bem tratada. Mas o meu dia a dia nunca foi glamouroso, sempre tive pouco dinheiro e muito trabalho. Glamour, mesmo, é quando a gente fica amiga de maquiador e cabeleireiro - aí é o máximo, porque já fui a festas muito linda e produzida carinhosamente pelos amigos, de graça!
Eu - Você se sente uma mulher forte? Às vezes, pessoalmente, acho essa história de ser mulher forte um barril da porra, porque simplesmente as pessoas acham que somos meio invencíveis, que suportamos tudo, temos a flexibilidade de uma borracha...acho isso barril...pessoalmente. Você se encara como forte ou pelo menos tenta ser? O que é ser uma mulher forte?
Ela - Sim, penso que sou forte, desde menina, mas tenho feito um looooongo trabalho pra deixar de ser. Porque, como você disse, isso é muito chato... quando era garota, e (achava que) tinha que provar meu valor, eu fazia questão de ser fortona, independente e cheia de iniciativas, em todos os campos, do pessoal ao profissional. Hoje trabalho duro para saber pedir ajuda, deixar que façam por mim, ser bem mulherzinha. E adoooooro quando me dão ordens! Aí não tenho que pensar, só executar, kkk!
Eu - Embora o ambiente de teatro seja dito um espaço "prafrentex", nos seus bastidores carrega os mesmos preconceitos e formas de relação de qualquer outro lugar. Logo, atores por mais polidos ou prafrentex que sejam, independente de orientação sexual, são machistas. Pelo menos percebo assim...na verdade, quero perguntar como dirigir homens, lidar com eles, sem ser um deles, sem deixar de ser feminina ou gostosa por isso? Você faz que para conseguir isso?
Ela - São machistas, sim, e o meio é preconceituoso, sem dúvida ne-nhu-ma. Minha fórmula infalível é: me faço de burra. Faço que não estou "entendeindo", finjo que não percebo indiretas, piadinhas, cantadas, interesses, puxadas de tapete e similares, e sigo em frente. Mas, na verdade, o fato é que, seja por sorte, seja por saber escolher as parcerias, eu não costumo ter problemas com os companheiros de vida e de trabalho ... eu sempre escolhi intuitivamente as pessoas pelo senso de humor. Quem não tem senso de humor não cola comigo.
Eu - Você acha que existe um padrão de pensamento feminino e um padrão de pensamento masculino? Acha que pensa de que jeito?
Ela - Ah, acho que tem diferenças, sim. E acho até bom que seja assim. Só que acredito, malgrado meu, que penso "masculinamente". Demorei até admitir que sou gostosa, me perdoe a falta de modéstia. Achava mais importante ser inteligente (hoje acho os dois muito bom). Não tenho muito saco pra conversa de mulher, a não ser as das minhas amigas inteligentes e bem humoradas. Mulher chatinha cheia de inha me cansa, vai daí que a maioria dos meus amigos é homem. Tirando aquelas baixarias de bunda e coisas assim, eu gosto da conversa deles. E me divirto muito, muito, muito, conversando com meu marido.
Eu - O que é liberdade para você? Acha que consegue viver aquilo que chama liberdade?
Ela - Aí vem a minha frase norteadora da vida, uma dita por Denise Stoklos num espetáculo que me marcou pra caramba, o "Um fax para Cristóvão Colombo": " A verdadeira revolução começa no espelho do banheiro". Penso que a liberdade mais difícil de ser conquistada é a criatividade nas relações pessoais, isto é: a liberdade de não ter de repetir os padrões de relacionamento de todo mundo, a liberdade de criar os seus próprios.Seja de marido/ mulher, patrão/ empregado, mãe / filho, professor / aluno, entre colegas de trabalho, artista / mercado, etc. Uma vez Bárbara Heliodora, crítica de teatro famosa lá do Rio que foi minha professora, falou uma coisa hilária em sala (ela é hilária!): Dói muito ser inteligente. Quando a gente é algum "ista" - flamenguista, comunista - a gente raciocina só que tudo ou é bom (o Flamengo, o comunismo) ou não é (o Fluminense, o capitalismo). Quando a gente é inteligente, está sempre pesando a situação, avaliando os prós e os contras, relativizando, se colocando no lugar do outro, sem tomar partido a priori. Isso dá muito mais trabalho! (Era mais ou menos isso, não me lembro bem). É isso! Eu acho que a liberdade dá trabalho. Não é à toa que tanta gente desiste e prefere ser mais um na manada.
Um comentário:
JACY,
É, COMO ELA MESMO DIZ ÓÓÓTTTIIIMMMAAA.
POR ISSO EU ADORO ELA.
BRUNO
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