sexta-feira, 6 de junho de 2008

Menstruo desde os dez anos, assim que completos. São 19 anos de sangue. Sangue, cólicas, lágrimas, nervosismo e gemidos. Aos 11 anos tive uma das piores cólicas de minha vida. Lembro que deitada no colo de minha mãe, eu pedia para não morrer. Porque nunca tivera dor tão funda e insuportável até aquele momento. O sofrimento persistiu por anos a fio. Não somente no momento em que ela descia, mas dias antes: dores de estômago, enxaqueca e muito,muito chororô.
Sem contar que o sistema imunológico costumava sair de férias, sempre que a amiga menstruação dava sinal de aproximação. Nessas momentos tive rubéola, dengue, catapora, depressão e o que ocorrer...
Assim fui tomando um certo horror de minha menstruação e estudando como diminuir seus impactos sobre a minha vida. Sim, porque eram impactos, bastante sofridos. O fato foi que aos 27 anos, eu decidi dar um basta nas agonias, vômitos, quedas de pressão, cólicas e diarréias mensalmente provocadas pela parceira. Adotei o esquema do anticoncepcional trimestral. Com ele tenho sido feliz há quase que dois anos.
Depois de tanto tempo, dei uma segurada no uso do remédio. Fui pra Chapada Diamantina e percebi que todas as mulheres me olhavam com certo espanto por eu optar por suspender minha menstruação. Comecei a achar que aquilo não devia ser bom. Que alguma coisa de errada eu estava fazendo com meu corpo.
Esse ano ainda não tomei minha santa injeçãozinha. Na última terça-feira, tive um acesso de choro. Uma resposta fria de um ex-caso foi o suficiente para eu me debulhar em lágrimas e me sentir a pior das mulheres. Feia, insossa, desprovida de atributos sexualmente interessantes, impossível de ser desejada, querida, amada. Ninguém no mundo olharia para mim. Chorando liguei pra uma amiga. Chorando fui para a academia. Chorando saí do meu ensaio, me sentindo ainda mais feia, mais desprezível, ainda acrescentando os dados de que não era também uma boa atriz. Fui dormir com o travesseiro molhado de tanto chorar. No dia seguinte, tinha meu lençol manchado. A menstruação descera. E com ela se apaziguara aquela dor toda, que não era necessariamente o que é a vida, mas a nuvem da tensão pré-menstrual.
Não sei. Por um lado sentia falta desse rio que corre pelo corpo. Mas por outro me desagradou ver que tudo continuava como antes: se eu quiser voltar a menstruar regularmente, tenho que preparar meus lenços e pedir que o mundo tenha cuidado comigo, pois posso cortar os pulsos.

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